sábado, dezembro 09, 2006

Desabafos do Pai Natal

Meus meninos, este ano não há prendas para ninguém! Oh... Oh... Oh... é que o Natal está a chegar e esta tosse não me passa!
A verdade é que estou já muito velho, gordo e cansado, para andar por aí feito louco a satisfazer os vossos pedidos.
Rapaziada, não sou mais aquilo que era. Lembram-se da minha grande barba branca? Pois é, não existe mais! Cortei-a por sugestão do Rodolfo - a mais forte das minhas renas, pois até ela perdeu a vontade e a força para continuar. Perante tamanha inutilidade, o mais certo é fazer dela a minha ceia de natal. É que o Bacalhau está caro e não posso sustentar tanta rena com a minha miserável reforma.
Estou triste com o Mundo, ou melhor, com os Homens que nele habitam e que sistematicamente o desrespeitam, chegando ao ponto de fazerem o mesmo entre eles. Estou farto. Agora quero ser eu a receber prendas, e das grandes!!
Pois bem, chegou o momento de serem vocês a dar alguma alegria aqui ao Pai... Não me resta outra alternativa senão confiar em vós, rapaziada. Este é o vosso momento! – aquele em que têm de fazer tudo o que de bom sabem e sonham para tornar este Mundo num lugar melhor para se viver. Tenho muita esperança que isso possa um dia acontecer, mas têm de perceber que há momentos para dar e não para receber. O Mundo vai agradecer-vos no futuro, porque eu decerto já não o poderei fazer Oh... Oh... Oh... é que o Natal está a chegar e a #@&%! da tosse não me passa.
Meus meninos, este ano não há prendas para ninguém! Oh... oh.... oh... é que não me passa!!
Psst, olha, tu aí! Já agora, ajuda aqui o velho e arranja-me uns trocos para comer uma sopinha e um prego ali no tasco, que isto de arrumar trenós não chega para tudo.

Bom Natal e Feliz Ano Novo para todos!

domingo, novembro 05, 2006

Porto em noite de lua cheia

O início de uma noite que se crê memorável começa com um jantar, em boa companhia, na Cufra - um restaurante situado na Avenida da Boavista, a maior do Porto. Ao entrar, deparo-me com uma sala a fervilhar de vida, cheia de gente bem disposta, falando alto, como se tratasse de um enorme jantar de família. Não hesitei em entrar. O atendimento foi pronto e a refeição não tardou a chegar. Gostava do que via, quando em cima da mesa pousou o pote de arroz de tamboril. Fiquei ainda mais deliciado assim que o saboreei. Talvez, só lhe faltasse um camarãozinho - esse bichinho delicioso que dá sempre um toque de classe a pratos de peixe. Terminado o jantar, segui em direcção à baixa, contornando o Porto pela foz e ribeira. O destino era o Pitch, um dos mais recentes espaços nocturnos do Porto, situado a escassos metros do Rivoli. Lá entrei, passando pelos habituais e incómodos "armários" que ficam à porta deste tipo de estabelecimentos. Logo do lado direito, estava o bar. A garganta já estava sêca há um bom bocado e não resisti a pedir uma bebida. Na escuridão da sala, repleta de gente, mas despida de qualquer adereço, destacava-se ao fundo a cabine iluminada do DJ, fazendo-me lembrar um altar de uma igreja. Porém, aqui os "santinhos" são poucos e dançavam com um copo na mão; a música não ecoava de um órgão celestial, mas de um gira discos a 45 ou 33 rotações. Na sala ouvia-se um house ou um techno, não tão minimal como o do Capela, no Bairro Alto. À medida que vou subindo as escadas que dão acesso ao piso superior do Pitch, a penumbra vai dando lugar a um ambiente de suave luminosidade, mais colorido e desafogado. A sala transfigura-se por completo, e tem agora uma decoração retro, em tons de Outono, com alguns sofás e candeeiros encostados a paredes e janelas. A música também acompanha a mudança, mas o gira-discos permanece inabalável. Nesta sala a agulha dá lustro a vinil de outros tempos - blues, funk e disco dos anos 60 e 70. É a loucura: "Uuuh, uuuh, shake it babe, shake it!!!". Começo a dançar alegremente e eis que me encontro comigo mesmo, transformando-me num matraquilho muito irrequieto. ah! ah! ah!
Do Pitch, segui para o cais de Gaia e daqui subi à Serra do Pilar. Neste percurso fui recolhendo algumas fotografias, tirando partido da luz da lua cheia.
Não há mais nada a dizer. As imagens falam por si.

O matreco está maravilhado com o Porto!!

Cliquem nas fotos para ampliá-las.



















































segunda-feira, outubro 09, 2006

Deslumbramento em terras d’uva

Eram 9:15 da manhã. Um apito soava no ar e, passados poucos instantes, o comboio começava a mover-se lentamente. Pouca-terra, pouca-terra e pouca terra ainda desbravava com o meu olhar. Um manto de neblina teimava pairar sobre a paisagem e a visão sobre todas as coisas era pouco contrastante e monótona.

O Porto estava cada vez mais distante e vi-me, então, na expectativa de sentir o deslumbre cada vez mais perto. A urbe começava a ficar para trás e em seu lugar o verde dos campos ia imperando cada vez mais. O sol parecia, finalmente, acordar e querer diluir o branco no azul do céu.

A viagem prosseguia serenamente, até que se deu lugar a um inesperado e feliz reencontro com o rio Douro, que há algum tempo havia perdido à saída da cidade invicta.
Inicia-se, assim, a pouco e pouco, o deslumbramento e vi-me embarcado numa viagem que me embalava entre as encostas e o serpentear de um rio, onde até há poucos dias se fazia a vindima. Este ritual dava agora lugar a outro, bem preceptível no ar quando se passava perto de uma adega. Sentia-se o cheiro da uva no lagar.

Debruçado sobre a janela do comboio, imaginei o esforço com que outrora, sem ajuda das máquinas de hoje, se fizeram socalcos e vinhas em terrenos tão íngremes.

Tinha, diante dos meus olhos, o reflexo de muito trabalho, suor e toda uma paisagem moldada com a força e sabedoria do Homem ao longo de centenas de anos. Mas, tudo tem um propósito e foi aqui que, da conjugação de vontades do Homem e da natureza, nasceu um dos melhores vinhos do Mundo. “Valeu a pena!!” - pensei eu.

A viagem seguia o seu rumo, sem sobressaltos. Porém, a cada curva do comboio revelava-se uma nova imagem, desejando que esta ficasse gravada na minha mente e logo de seguida na máquina fotográfica que levava comigo. Parecia um daqueles homens de olhos em bico, aos quais, por certo, não escaparia ao disparo da maquina fotográfica nenhum dos barcos rabelos, no sobe e desce do rio, ou qualquer casa vinícola situada na margem ou encosta do Douro.

De clic em clic, e sempre lado-a-lado com o rio, passei pela estação da Régua e do Pinhão, até chegar ao Tua – o local escolhido para almoçar e contemplar o Douro.

Já passava das 13h e no “Calça curta” aguardava-me um aromático prato de javali servido com arroz, batata cozida e salada. Entre as garfadas, degustava um vinho da região, como não poderia deixar de ser, um tinto maduro, encorpado, servido ao natural. Muito agradável. Afinal de contas, sempre era um tinto do Douro.
Seguiu-se, então, o café e uma voltinha a pé entr
e a linha férrea e a margem do rio para digerir melhor tão farta e saborosa refeição.

O relógio da estação do Tua marcava 16:15. Pouco tempo depois chegava o comboio que me levaria de regresso ao Porto – São Bento.

Pouca-terra, pouca-terra e lá fui eu, novamente debruçado sobre a janela do comboio, vendo o sol diluindo-se cada vez mais no horizonte e as sombras das encostas nos vinhedos e socalcos.

O deslumbramento desvanecia-se lentamente, mas sempre mais lento que o anoitecer. Quem conhece o Douro, sabe que o deslumbramento renova-se todos os dias, assim como a vontade do Homem. Todos os anos, com o esforço daqueles que por lá trabalham, se cumprem os mesmos rituais que dão vida a vales, vinhas, socalcos e adegas; todos os anos é cumprido o ritual de brindar com vinho a tudo isto e a futuras e generosas colheitas. Todos os anos se faz vinho, se Deus quiser.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Amor - mais uma (in)definição

Amor é algo que não se explica, mas que se respira - inspira-se e expira-se involuntariamente, aceitando o ressonar do outro como um mal menor.

Poema às Tágides

Faço o desenho do meu rosto.
Em cada traço, abraço

As marcas do meu viver

E nos meus olhos o crer

Que a boca diz não poder.

Uma vela recolhida,
Um barco sem Norte
E no anzol, o sonho
De uma vida inteira:
O amor de uma sereia.

terça-feira, julho 25, 2006

Boneca Insuflável

Podias ser cantora de ópera,
Quiçá outra Maria Callas!
Podias ser Jane,
Gritando por Tarzan!
Podias ter inspirado Edvard Munch,
Ao pintar “O grito”!
Podias ser marioneta de boca perra,
Ou máscara de tragédia Grega!
Podias ser Marília,
Eterna paixão de Bocage!
Mas, afinal és tudo isto...
E de todos, boneca insuflável!
Sua cabra!!

quinta-feira, julho 20, 2006

Israel - A cultura do ódio


Crianças israelitas escrevem mensagens "bombásticas" a crianças do Líbano.

É a cultura do ódio e do "olho-por-olho, dente-por-dente".
Assim, não vamos lá...


Os matraquilhos são adeptos da cultura da paz e ficam irrequietos com coisas destas.

quarta-feira, julho 12, 2006

Verão, tempo de amores e desamores.

Verão, tempo de amores e desamores, vá-se lá saber porquê??

Verão - o fenómeno, o sortilégio do calor que tem por efeito provocar uma exuberante tendência voyeur e de aproximação, convivência, embriaguês, paixão e nudez entre pessoas. De repente vem-me à cabeça uma questão deveras pertinente: qual o efeito da subida em 1 grau centigrado da temperatura global do planeta na exuberância e sex appeal de quem veraneia?? Uma bela pergunta para a menina da meteorologia.

Porquê esperar pelo Verão para sentir tal fenómeno, quando no Inverno o calor do corpo-a-corpo até se torna mais suportável e confortável? Ou será difícil resistir ao calor que nos faz libertar o efeito afrodisíaco do suor, fazendo despoletar o nosso instinto primário e animal de atracção ou repulsa para com o outro? A este respeito, é sabido que os pelos desempenham um papel importante, embora seja consensual entre Matrecos, não ser muito atractivo ver uma Matreca de pelo no sovaco. Mas lá está, se ao calor juntarmos o álcool propiciam-se efeitos alucinantes e hilariantes, então... ZÁS CATRAPAZ!!, o que outrora fora uma amalgama de pelos debaixo do braço, transforma-se num macio e confortável tufo de pétalas de rosa e eis que, num ápice, passas a desejar arduamente a Matraquilha, elevando-a com os teus braços em direcção ao céu e todas as estrelas do seu firmamento, rodopiando com ela até que, muito provavelmente e por fim, um dos dois se vomite todo. Já se sabe que o álcool sujeito ao movimento centrífugo não perdoa, mas a vida continua serenamente, pois os dias de Verão são longos, a tempo de curar a ressaca da noite anterior e pensar na "embriaguês amorosa” da noite seguinte. O amor é, decerto, um lugar estranho, mas o amor de Verão ainda mais estranho é, para mais quando se experimenta um sentimento de incredulidade ao acordar num lugar estranho, com alguém estranho.

Praia, esse lugar nada místico, mas de imensa paz onde tudo pode começar, ora realçando o nosso sentido protector colocando um pouco de protector solar nas costas de quem nos agrada, ora brotando palavras que o calor torna mais ardentes e melosas, que só amainam com um beijo, ou na pior das hipóteses, pedindo-lhe uma gotinha de água. Antes isso que levar uma grande banhada. A noite na praia traz outros encantos, contudo a frescura do passeio pelo areal aconselha a troca de protector - uma camisinha, não vá alguém ficar “queimado”.

Oh! Verão, tempo de amores e desamores. Vá-se lá saber o porquê desta perpétua dicotomia de resultados tão imprevisíveis, como por exemplo: ter um caso com alguém que tem um caso sério e que, por pouco, se torna num caso muito sério, ou deixar esta trapalhada toda e experimentar a frontalidade, o liberalismo, o sentido prático da emancipação sueca e querer desejar viver como um alce em tempo de cio– espojando a nossa essência em tudo quanto é buraco. Afinal, qual a razão para tanta loucura que pode levar-nos ao ponto de embalar-nos numa viagem de milhares de quilómetros em busca de alguém e, tudo isto, para ter tudo, ou apenas um carinhoso beijinho? Este ultimo desfecho não agrada a ninguém, é incompreensível e sabe a pouco, porque afinal de contas, é Verão!!!

Ai...*(suspiro) amores de Verão, quem não os tem?! Uma paixão que nos toca, mas não se sabe bem como e que desta mesma forma desaparece dando lugar a algo maior – o amor, que curiosamente é capaz de ter a sua maior virtude na tendência de ver o menos bom do outro como algo menor. Porém, para um amor de verão, o mais certo é seguir o fatalismo de tantos outros – acabar até Setembro e abraçar vertiginosamente o Outono. Sempre se poderá apanhar as folhas que caem e conservá-las com amizade, ou passar por cima delas, mas porque fica sempre algo e porque é quase sempre assim, procuro apanhar as folhas que caem, os amores que se esvaiam. Vá-se lá saber porquê?

Os matraquilhos adoram o verão!!

segunda-feira, junho 26, 2006

E, enfim, fez-se sumo!!!

Meus caros, ao lembrar-me do jogo que confrontou Portugal e Holanda, as palavras faltam-me e a inspiração também. Apenas consigo conjugar o verbo que se apoderou de mim durante aqueles terríveis e sofríveis 45 minutos (+6 de compensação). A esta soma de minutos subtraia-se 1 segundo de extrema alegria - aquele em que o arbitro soprou no maldito apito pela última vez.
Foram tantas as vezes que o apito soou associado a acções de final trágico que, por certo, nem o cão do Pavlov teria vontade de salivar se o ouvisse.

Pretérito perfeito do indicativo do verbo Sofrer:

Eu sofri, porém...
Tu sofreste, porém uma vez...
Ele sofreu, porém uma vez mais...
Nós sofremos, porém uma vez mais conseguimos...
Vós sofrestes, porém uma vez mais conseguimos espremê-las...
Eles sofreram, porém uma vez mais conseguiram espremê-las - aquelas laranjas ruins!!!

E, enfim, fez-se sumo!!!

Os matraquilhos também sofrem.

quinta-feira, junho 01, 2006

Uma moeda para o Santo António

Almocei e em boa companhia passeei por Lisboa.
Depois de umas quantas voltas pela cidade com ponto de partida a Oriente, acabámos por ficar a meio da tarde em pleno Chiado. Decidimos então dar uma vista de olhos pelas novidades de livros, cd's e fotografia nos novos Armazéns do Chiado. Aqui não perdi a oportunidade de ouvir, uma vez mais, a musica que mais me agrada do novo álbum de Pearl Jam - a Unemployable. Transportei-me para outra dimensão e imaginei ouvi-la em concerto com milhares a cantá-la em uníssono. Um sorriso meu denuncia a minha alegria ao saber que o sonho estava no caminho certo para ser concretizado. Tinha comigo um bilhete para o concerto comprado nesta mesma tarde. Agora, só me resta esperar por Setembro. Na passagem pelos livros, comecei por ver guias de viagens - fui a Cuba, Cabo Verde, Londres e a mais um ou outro destino de férias desejado. Porém, acabei por comprar um livro sobre Anjos. Quem diria, hem?? Certamente foi influência do "anjinho" que me acompanhava. Por fim, passei pela fotografia. Ao ver à venda apenas dois modelos reflex descontinuados e uma dúzia delas em segunda mão, fiquei decididamente com a ideia que a película vai acabar. O digital sempre veio para ficar, mas é na película que se aprende. Terminada a volta aos novos Armazéns do Chiado, subimos passando a Brasileira, continuámos amparados pelo Largo Camões à esquerda e pelo Bairro Alto à direita, até que ao passar pelo elevador da Bica cortámos na primeira rua à esquerda. Seguindo por esta rua, ao passar pela esplanada de uma tasca constatei que já tinha chegado o tempo dos caracóis. Com eles e com o calor aparecem também os freaks, com as suas vestes coloridas, cabelos despenteados e sedentos de sede, levando litronas de cerveja na mão compradas na mercearia em frente à tasca. Este era, sem dúvida, um bom presságio!!
Tudo se tornou mais claro logo de seguida, quando da "campânula" da rua desembocou uma pequena multidão de muitas cores, falas e sonoridades, de risos, com música de guitarras e djembés de outras paragens. Tínhamos chegado ao Adamastor. É o nome que dão àquele lugar todos os que ali vão. Esta temerosa personificação dos Lusíadas acaba assim por dar nome a uma das muitas "varandas" da cidade debruçadas sobre o Tejo. Camões ficaria surpreso ao ver que naquele espaço o temor torna-se alegria na partilha de um fim de tarde, com um deslumbrante pôr-do-sol e a celebração de mais um dia passado, numa roda viva e descontraída de pessoas tão diferentes.
Ficámos por ali, num café mesmo ao lado do Adamastor. A vista essa continuava a deslumbrar, mas agora já saboreando e sentindo a frescura de uma cerveja garganta abaixo. Brindava-se ao sol - olhos nos olhos, falava-se de viagens, aventuras e desventuras até que num instante abeirou-se à mesa um rapaz dizendo: "Dê-me uma moeda para o Santo António". Lembro-me de ver o catraio com calções e uma T-shirt clara, o seu cabelo era curto mas não muito desgrenhado e o rosto era redondo e de feições um pouco tristonhas. Numa das mãos trazia então a lata para as moedas e na outra uma estátua do Santo António, bem engraçada por sinal.
Poder-se-ia pensar que este momento desvanecesse um pouco o deslumbramento deste fim de tarde, porém, aquela criança intrigava-nos e a sua interpelação não teria desfecho sem que outras respostas nos fossem dadas. Como já calculávamos, o Santo António não era a verdadeira motivação para que o rapaz andasse a pedir, mas sim a compra de um skate, que custava 25 euros nos Armazéns do Chiado. Às nossas dúvidas ele afirmava decididamente que era esse o seu objectivo. Resolvemos então, entre os dois, dar-lhe 25 euros para a compra do skate, lembrando-o que provavelmente seria algo que ninguém fez ou faria naquelas circunstâncias. Provavelmente, não seriam precisas estas palavras para que ele percebesse que se tratava de algo excepcional, em todos os sentidos. O rapaz parecia sentir uma alegria contida e alguma ansiedade. Pedimos-lhe por fim, que nos fosse mostrar o skate àquele preciso local. O rapaz lá foi embora e nós ficámos com a esperança de um bom desfecho para a história. Dois dedos de conversa e uma imperial mais tarde, aparece o moço trazendo o skate, ainda embrulhado no plástico, debaixo do braço.

"Não custa muito fazer alguém feliz" - já tinha dito a minha companhia daquela tarde. Mas o deslumbramento daquele pôr-do-sol no Adamastor foi maior e a felicidade tocou-nos ali.

Abençoai-nos Santo António.

quinta-feira, maio 18, 2006

Sintra, grunge e histórias do arco da velha

Depois de uma ausência de quatro anos, aí estão eles!! Muitos dos matraquilhos que agora estão perto dos 30 anos de idade têm-nos como uma das referências na musica que os acompanhou durante a puberdade - essa fase estranha, metamórfica, em que tudo se sente à flor da pele.

Feita a transição para um estado adulto, supostamente de consciência mais elevada, é com agrado que vejo o regresso dos Pearl Jam. Agora, a sua música não me traz somente o álcool puro e a volatilidade do momento presente, mas também já um leve trago de saudosismo à mistura - o depósito, na gíria chamado "pé", onde estão embebidas as recordações de cada um de nós.
Fazendo a decantação desta minha solução alquímica, a música dos Pearl Jam, assim como de muitos outros grupos grunge surgidos em finais dos anos 80’s e inícios de 90, aparecem inevitavelmente associadas a muitas tardes e noites passadas em Sintra.
Neste processo de separação de lembranças, começo por revelar as baldas às aulas passadas na torre mais alta do Castelo dos Mouros a comer queimados - os travesseiros que saem pela porta da cozinha da Piriquita, acompanhando com uma cervejinha e, como não poderia deixar de ser, um som grunge ecoava num rádio ou walkman. Recordo-me que esta conjugação de ingredientes era um pouco indigesta e certamente desaconselhada por qualquer nutricionista.
Recordo os passeios nocturnos da maralha pela serra de Sintra. E para fazer o quê? - perguntam as vossas mentes insaciáveis. Para falar de história e estórias do arco da velha, ou de mais uma galinha preta encontrada morta de tanto ter sido depenada num ritual satânico lá para os lados do Convento dos Capuchos. Contudo, o momento alto da noite dava-se quando ecoava entre muralhas um som grunge das nossas gargantas e guitarras. Estar na serra era e ainda é um prazer instantâneo, mais solúvel em mim que qualquer chocolate em pó num copo de leite.
Quão maravilhosas eram as idas até à Vila velha, passando pela Volta do Duche com guitarras e djembés ao ombro que ali começavam a ecoar para então, depois de beber uns copos no Sr. Augusto e comer um dos seus fantásticos hamburgers, acabar no portado de uma casa em frente ao bar. Nesta casa, morava um Guarda Republicano que nos dava sempre as “boas vindas” em ceroulas e camisa de alças branca. Quando se assistia a tão nobre momento, só superado por um relógio de cuco imperial às doze badaladas, a solução mais prática era descer a rua até às traseiras do Hotel Tivoli. A fuga, não deixava de ser uma manobra delicada, já que a calçada íngreme dificultava os movimentos. Longe de nós atribuir tal facto ao álcool! Mais fácil era atribuir culpas a um dos ex libris de Sintra - a humidade, que à noite impregnava o chão tornando-o escorregadiço. Ao invés, a estreiteza da calçada não era problema para nós, mas para quem a subia de carro tinha sempre de ter auxilio à viragem do cotovelo ao cimo da rua.
Naquele espaço e naquele tempo existia solidariedade, a comunhão de um pequeno bairro do amor e a descontracção de um Bairro Alto. Ali fumava-se o cachimbo da paz.. Não muito longe dali, também as abóbadas do Palácio da Vila ouviram o ecoar de guitarras, de djembés, de flautas, até de um violoncelo, e claro, o tal som grunge. Enfim, *(suspiro de matreco), bons tempos de rodopio e corrupio.

Dedico este post aos amigos que tenho conservado na minha solução alquímica ao longo da minha existência e àqueles que têm tido gosto em conservar-me na sua ao longo destes anos. Onde quer que estejam, jamais esqueçam Sintra.

sexta-feira, maio 05, 2006

Portugal - um petrodependente em combustível automóvel


Podia ser um matraquilho egoísta e dizer: O que será de mim sem aquele produto refinado que me faz movimentar freneticamente, sem que fique encravado? Porém, não sou o único matraquiho no mundo e será sempre melhor ter mais que uma opção para os desafios que surgem.

Penso cada vez mais que seria benéfico ao Estado e a todos nós pôr-mos fim a tamanha dependência do petróleo. Pergunto qual a razão de não se apostar no desenvolvimento de novos combustíveis menos poluentes em alternativa à gasolina e ao diesel? Aliás, muito à semelhança do que se faz no Brasil, nos Estados Unidos, mas também na Suécia e Alemanha, onde o uso do etanol se tem afigurado como uma óptima solução económica e ambiental. Uma boa referência é o enorme crescimento nestes países de vendas de veículos amigos do ambiente. Para se ter uma ideia mais concreta do que estou a dizer, refira-se que 80% dos Ford Focus vendidos na Suécia são movidos a Bioetanol.
Portugal não tem para a produção do etanol a cana de açúcar que tem o Brasil, no entanto temos o trigo, a partir do qual se extrai um derivado que só por si é combustível, mas que adicionado ao etanol resulta no conhecido Bioetanol. Se o uso deste combustível colhe já muitos adeptos, o que dizer então da utilização do hidrogénio do qual se obtém como produto da sua combustão a fabulosa molécula H2O!? Só de pensar nesta possibilidade tenho água na boca. Além destas alternativas, quem já não ouviu falar de alguém que frita óleo vegetal no motor do carro?
Se existe no país um Ministério de Inovação, se o Governo tanto aposta no choque tecnológico, se é desejável Portugal ser um país com menores emissões de gases poluentes, se o Governo tanto deseja gastar menos e melhor, se todos nós portugueses achamos que se gasta de mais em combustível automóvel, pergunto por que não inovar investindo no estudo, produção e implementação de novos combustíveis? Por que não a GALP entrar também neste processo? Dever-se-á insistir na construção de mais refinarias, quando o preço do petróleo se torna insustentável?
A mudança de sentido da política energética, não seria apenas um choque tecnológico, mas também a afirmação por uma maior independência e auto-suficiência. Por fim, seria menos uma inquietação para o país sempre que se fala numa crise no Médio Oriente, ou num qualquer outro lugar de ouro negro.

Agora, podes colocar uma moedinha nos matrecos, mas para bem do jogo põe antes óleo vegetal, de uma marca qualquer e usado, de preferência.

Ver o link The Free Fuel Trial na barra ao lado.

terça-feira, abril 25, 2006

Viva o 25 de Abril, sempre!!


Quem não o quis, quem ainda hoje é saudosista do tempo que o antecedeu, quem deseja o seu regresso, assim como a ignorância e o medo do povo, não me espanta. O que me surpreende são aqueles que têm vergonha de dizer "Viva o 25 de Abril"!!
Passados agora 32 anos sobre o acontecimento, a democracia plena não é ainda um dado adquirido. Um povo alerta, informado e interveniente é e sempre será indispensável a uma democracia sã. Questionemo-nos e façamos uma escolha consciente entre as várias opções que nos foram dadas com a reconquista da liberdade. A dificuldade de escolha é algo natural e advém do próprio processo. Antes isso que a dificuldade de expressão e de tantas outras coisas. E porque o 25 de Abril de 1974 aconteceu e se perpetua nos nossos dias, tenho dito.

sexta-feira, abril 21, 2006

zás trás



E cá estou eu a dar o meu contributo para a Blogosfera! Mas o que é isto da Blogosfera senão um enorme grupo de matraquilhos irrequietos que se quer mostrar e partilhar com os demais o que se é, o que se vai sentindo, o que se vai fazendo, o que se gostaria de fazer, enfim, a toda a engrenagem da arte de viver matraquilhando ora encravando a bola nos pés firmes e pouco acrobáticos, ora contornando-a com uma volta de 360 graus para depois, com toda a força de um pontapé, ou com a subtileza de uma cabeçada tentar alcançar o que qualquer matraquilho deseja - o Golo! Porém, tudo se pode complicar, pois é sabido que mesmo com muitos companheiros de equipa, nem sempre se chuta no mesmo sentido e com aquela confiança inabalável. Depois há aqueles matraquilhos que nos desiludem acabando por marcar golos na própria baliza. Uma pena. Entre tantos jogadores há também os "Chicos espertos" - aqueles que não resistem chegar à glória rodopiando sem parar quando a bola passa por perto. Há sempre o reverso da medalha e o mau hábito dos "Chicos" termina quando chega o emperro e lhes falta a massa consistente ou o óleo para continuarem com a esperteza. Infelizmente e para mal de todos nós, este tipo de matrecos vai persistindo e resistindo ao desgaste dos apertos.
Um golo de matraquilho é pois algo muito apetecível, mas se contribuir para o reconhecimento do valor do grande EU e do mesmo nos outros, obter-se-á o alcançar de um bem comum - um jogo de matraquilhos "iluminado". E assim se vai vivendo, matraquilhando aqui e ali, com menor ou maior habilidade e sabedoria. Contudo o mistério de todo o jogo persiste e uma questão subsiste:
Quem foi o "Chico esperto" que pôs a moeda?!