segunda-feira, junho 26, 2006

E, enfim, fez-se sumo!!!

Meus caros, ao lembrar-me do jogo que confrontou Portugal e Holanda, as palavras faltam-me e a inspiração também. Apenas consigo conjugar o verbo que se apoderou de mim durante aqueles terríveis e sofríveis 45 minutos (+6 de compensação). A esta soma de minutos subtraia-se 1 segundo de extrema alegria - aquele em que o arbitro soprou no maldito apito pela última vez.
Foram tantas as vezes que o apito soou associado a acções de final trágico que, por certo, nem o cão do Pavlov teria vontade de salivar se o ouvisse.

Pretérito perfeito do indicativo do verbo Sofrer:

Eu sofri, porém...
Tu sofreste, porém uma vez...
Ele sofreu, porém uma vez mais...
Nós sofremos, porém uma vez mais conseguimos...
Vós sofrestes, porém uma vez mais conseguimos espremê-las...
Eles sofreram, porém uma vez mais conseguiram espremê-las - aquelas laranjas ruins!!!

E, enfim, fez-se sumo!!!

Os matraquilhos também sofrem.

quinta-feira, junho 01, 2006

Uma moeda para o Santo António

Almocei e em boa companhia passeei por Lisboa.
Depois de umas quantas voltas pela cidade com ponto de partida a Oriente, acabámos por ficar a meio da tarde em pleno Chiado. Decidimos então dar uma vista de olhos pelas novidades de livros, cd's e fotografia nos novos Armazéns do Chiado. Aqui não perdi a oportunidade de ouvir, uma vez mais, a musica que mais me agrada do novo álbum de Pearl Jam - a Unemployable. Transportei-me para outra dimensão e imaginei ouvi-la em concerto com milhares a cantá-la em uníssono. Um sorriso meu denuncia a minha alegria ao saber que o sonho estava no caminho certo para ser concretizado. Tinha comigo um bilhete para o concerto comprado nesta mesma tarde. Agora, só me resta esperar por Setembro. Na passagem pelos livros, comecei por ver guias de viagens - fui a Cuba, Cabo Verde, Londres e a mais um ou outro destino de férias desejado. Porém, acabei por comprar um livro sobre Anjos. Quem diria, hem?? Certamente foi influência do "anjinho" que me acompanhava. Por fim, passei pela fotografia. Ao ver à venda apenas dois modelos reflex descontinuados e uma dúzia delas em segunda mão, fiquei decididamente com a ideia que a película vai acabar. O digital sempre veio para ficar, mas é na película que se aprende. Terminada a volta aos novos Armazéns do Chiado, subimos passando a Brasileira, continuámos amparados pelo Largo Camões à esquerda e pelo Bairro Alto à direita, até que ao passar pelo elevador da Bica cortámos na primeira rua à esquerda. Seguindo por esta rua, ao passar pela esplanada de uma tasca constatei que já tinha chegado o tempo dos caracóis. Com eles e com o calor aparecem também os freaks, com as suas vestes coloridas, cabelos despenteados e sedentos de sede, levando litronas de cerveja na mão compradas na mercearia em frente à tasca. Este era, sem dúvida, um bom presságio!!
Tudo se tornou mais claro logo de seguida, quando da "campânula" da rua desembocou uma pequena multidão de muitas cores, falas e sonoridades, de risos, com música de guitarras e djembés de outras paragens. Tínhamos chegado ao Adamastor. É o nome que dão àquele lugar todos os que ali vão. Esta temerosa personificação dos Lusíadas acaba assim por dar nome a uma das muitas "varandas" da cidade debruçadas sobre o Tejo. Camões ficaria surpreso ao ver que naquele espaço o temor torna-se alegria na partilha de um fim de tarde, com um deslumbrante pôr-do-sol e a celebração de mais um dia passado, numa roda viva e descontraída de pessoas tão diferentes.
Ficámos por ali, num café mesmo ao lado do Adamastor. A vista essa continuava a deslumbrar, mas agora já saboreando e sentindo a frescura de uma cerveja garganta abaixo. Brindava-se ao sol - olhos nos olhos, falava-se de viagens, aventuras e desventuras até que num instante abeirou-se à mesa um rapaz dizendo: "Dê-me uma moeda para o Santo António". Lembro-me de ver o catraio com calções e uma T-shirt clara, o seu cabelo era curto mas não muito desgrenhado e o rosto era redondo e de feições um pouco tristonhas. Numa das mãos trazia então a lata para as moedas e na outra uma estátua do Santo António, bem engraçada por sinal.
Poder-se-ia pensar que este momento desvanecesse um pouco o deslumbramento deste fim de tarde, porém, aquela criança intrigava-nos e a sua interpelação não teria desfecho sem que outras respostas nos fossem dadas. Como já calculávamos, o Santo António não era a verdadeira motivação para que o rapaz andasse a pedir, mas sim a compra de um skate, que custava 25 euros nos Armazéns do Chiado. Às nossas dúvidas ele afirmava decididamente que era esse o seu objectivo. Resolvemos então, entre os dois, dar-lhe 25 euros para a compra do skate, lembrando-o que provavelmente seria algo que ninguém fez ou faria naquelas circunstâncias. Provavelmente, não seriam precisas estas palavras para que ele percebesse que se tratava de algo excepcional, em todos os sentidos. O rapaz parecia sentir uma alegria contida e alguma ansiedade. Pedimos-lhe por fim, que nos fosse mostrar o skate àquele preciso local. O rapaz lá foi embora e nós ficámos com a esperança de um bom desfecho para a história. Dois dedos de conversa e uma imperial mais tarde, aparece o moço trazendo o skate, ainda embrulhado no plástico, debaixo do braço.

"Não custa muito fazer alguém feliz" - já tinha dito a minha companhia daquela tarde. Mas o deslumbramento daquele pôr-do-sol no Adamastor foi maior e a felicidade tocou-nos ali.

Abençoai-nos Santo António.